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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A Desgraça em um Calendário

Agosto, mês infernal. E não seria diferente esse ano.
A paisagem torna-se cizenta, o ar pesado e o cenário seco.
Olhando da sacada pensei alto: 'Mês infernal, algo de tenebroso vai acontecer.'
Sinto o vento tocar meu rosto, como se a desgraça apenas comprovasse meu pensamento.

Esse maldito mês não poderia terminar sem arrancar um imenso pedaço de minha alma.
Dois dias pra esses 'ares' infernais irem embora e a tempestade mostra a sua cara impiedosa para mim.
Mais uma crise, mas essa não teve palavras de conforto ou somente um silêncio ensurdecedor.
Tudo foi quebrado com ofensas desferidas como golpes de um punhal afiadissimo que deixarão marcas eternas.
Saber que o mês de agosto mostrou para eles o monstro que carrego comigo foi imperdoável.
Ouvir que meu lugar é longe dessa paisagem que todos conhecem e dentro de uma que poucos tiveram o desprazer de conhecer, não estava nos meus planos de agosto.

Hoje olhei novamente da sacada, a paisagem de um mês que está à um pouco mais de 24 horas para acabar. O mesmo cenário da manhã anterior, só que consigo vê-la mais cinza, mais seca.
Mas está tudo como ontem, então comprovo que esse ano o mês de Agosto ditou minha sentença final. Seria tudo culpa desse mês cheio de mistérios e crendices?
Com certeza não, mas prefiro acreditar que tudo que ouvi foi exatamente por culpa do mês infernal.
Assim aguardo o término dele, para que eu possa vislumbrar a paisagem doce de Setembro enjaulada em um mundo onde os 'loucos' não têm voz.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Farmacologia

- Em quê posso ajudá-la?

- Por favor, me dê algumas caixas de substâncias para dias turbulentos como os de amanhã. Podem ser os mais comuns como: Lexotan, Diazepan, Neurilan, Fernegan e Socian.
E mais cápsulas que falem por mim: Dramim, Daforin, Carmazin e Benflogin.
Sabe, preciso de alguns para caso ocorra um dia difícil, como Buspanil, Clonotril, Olcadil, Rivotril, Amytril, Cipranil, Melleril, Neuleptil, Epilenil e Neurolil.
Ah, e não esqueça das fórmulas que irão 'segurar' meu lado 'assassina': Mirtrazapina, Depramina, Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina, Carbamazepina e Ritalina.
Assim poderei terminar o dia de forma mais NATURAL com Frontal, Tranquinal, Fitovital, Psiquial e Neural.

- Aqui estão todos os seu medicamentos. Mais alguma coisa?

-Hum....Sim!!!
Por favor, mais cinco cartelas de Anador. Vou levar por preucaução, caso nenhum desses medicamentos acabe com a minha Dor.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Madrugadas

Eu tenho medo de olhar para os lados. Mas mesmo não querendo ver, sinto todos eles.
Ela com seu vestido manchado de sangue, às vezes com uma pureza no rosto, às vezes com um ódio que suga as minhas forças.
Ela senta na cama e fica balançando o tronco. Quando se irrita, começa andar de um lado para o outro.
E para me assustar ela pára do meu lado. Eu consigo sentir sua 'respiração' gélida em meu rosto.
Ela sussurra algumas palavras em meu ouvido. Sinto o meu coração descompassar. Fecho os olhos e penso que aquilo não é real. Mas ao abri-los tenho a imagem infernal do medo, ódio e vazio.
O quarto não tem o calor do dia para afastar esse ar gelado. E nem o barulho dos carros, das construções para abafar esse grito ensurdecedor.
Queria que ela desaparecesse. Deixasse de me atormentar. Mas não! Eu me vejo nela, por que disso?
Ela sangra e diz que tudo logo acabará. Mas o que acabará???
Tento retirar respostas dela, mas ela nunca é específica. Sinto que ela quer me levar ao desespero total. Uma hora ela conseguirá e estarei no mesmo mundo em que ela e os outros habitam.

Escuto outro grito. Quem é esse garoto com expressão de dor que deita na minha cama e se contorce de dor?
A expressão de dor dele diz muito. Ele leva as mãos na altura do estômago e grita.
Seus gritos dizem mais do que as palavras da garota com o vestido branco manchado de sangue.
Mas não quero ele na minha cama, nem ouvir seus gritos.
Eles não deveriam estar aqui. Ou será minha mente produzindo tudo isso?
Não!!! É tudo muito real ou seria irreal???
Levo as mãos à cabeça, num ato de desespero. Fecho os olhos e começo a chorar. Peço que tudo aquilo termine logo. Cenas que não pertencem à minha memória invadem a minha mente.
Eu preciso acabar com tudo isso.
Abro os olhos com a certeza que tudo acabará naquele exato segundo.
A calmaria da madrugada invade meus ouvidos. Olho pelos quatro cantos do quarto, não há nada, nem ninguém.
Suspiro aliviada. Era tudo imaginário.

Quase 3 da manhã. Preciso apenas descansar. Talvez o cansaço esteja projetando tais cenas em minha mente.
Viajo um pouco em sonhos criados por mim. Somente assim consigo adormecer logo. Escuto as badaladas do relógio pré-histórico que fica na sala principal. Viro pro lado com a certeza de que logo terei que estar na rua à caminho do trabalho.

Um rosto. Um grito!

E ainda me perguntam o por quê das minhas olheiras!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Um Grito Apenas.....O que seria loucura???

Camila, cabelos pretos, pele branca, toda marcada e um olhar triste.
Fabiana ,cabelos cor de mel, pele morena e um sonho obsessivo: ser magra.
Lívia, cabelos curtos numa tonalidade castanho escuro, de poucas palavras.
Estas eram as colegas de quarto, todas com idade entre 20 a 23 anos. Era com elas que a 4ª integrante do quarto borboletas, como era chamado por Camila, iria conviver por aqueles longos 4 meses.
Em poucos dias ela aprendeu que realmente as regras deveriam ser seguidas, e que sua medicação era composta por 3 remédios de cores diferentes, ministrados 3 vezes ao dia na chamada Farmácia, onde ela preferia chamar de 'manutenção de dementes'.
Os remédios lhe deixavam com o raciocínio lento, apática.
Durante um mês inteiro ela tentou falar com o irmão, que tomou conta das empresas dos pais ,depois que estes se foram.
Eram só ele e ela. Como ela sofria com a merda da depressão e ninguém dava créditos por isso, ficou nas mãos do irmão a responsabilidade de continuar o que os pais tinham construído.
Ele sempre cuidando dela, mas parece que dessa vez ele havia se cansado.
Ela tentou, ligou e nada. Sempre a secretária dizia que ele estava viajando, em reunião, ocupado, etc e tal. Na sua casa ela só falava com a secretária eletrônica, sem nenhum retorno. Mas durante os 4 meses que ela esteve lá, era integre a ela toda semana uma carteira de cigarro, 'créditos do seu irmão' - disse uma das enfermeiras- que era o permitido nas normas internas, e um caderno e uma caneta por mês. Dava pra fumar um cigarro ou dois no dia, nos chamados 'banhos de sol', que ela comparava com o momento dos presidiários saírem no pátio e fazerem alguma coisa.
O resto do dia era tudo horrível. Tentavam fazer com que alguém se interessasse por atividades que surtiriam efeito no tratamento. Mas pra ela aquilo tudo era uma imbecilidade que não mereciam mérito algum. Então ela escrevia. Por isso do caderno e da caneta todo mês, porque seu irmão sabia que ela amava escrever.
Folhas e mais folhas contando o sofrimento de Camila que já estava naquele 'inferno' há 3 meses. Não havia um lugar do seu corpo que não houvessem cicatrizes. A dor e o pesar de viver eram nítidos no olhar de Camila. Uma garota que gostava de pintar e sonhava conhecer Londres, isso só não aconteceu devido suas crises e o seu sério problema com o cutting. Ela era vigiada o tempo todo e viva na 'reclusão' por causa de suas crises. Os seus gritos doíam na alma.
Já Fabiana era faladeira, vivia falando o quanto queria ser magra, desfilar em passarelas e ter o glamour das grandes tops models. Ela já era alta e magra, mas insistia em emagrecer mais e mais. A solução??? Interná-la. E tentar fazer com que ela intendesse que poderia morrer por causa daquela obsessão. Fabi, como todas a chamavam já estava na clínica pela 4ª vez.
Lívia, essa era incompreensível. Estava sempre calada e tinha surtos de raiva onde era contida pelos enfermeiros e levada à reclusão.
Havia outras personagens, tantas que as folhas pareciam não ser suficientes. Tantas dores, dela, Camila, Lívia Fabi e de várias outras incompreendidas.

Outras duas normas que não poderiam ser descumpridas:
1 - a participação semanal na terapia de grupo;
2- a 'consulta' com o psiquiatra.
A consulta era intrigante. O medico, cujo nome era bem a cara dele, Carlos Alberto, mal olhava quem entrava em seu consultório. Só dizia o nome e fazia algumas perguntas e no fim dizia se iria continuar a medicação atual ou se algo mudaria. Todas pareciam um nada pra ele.

- Queria saber o por que estou aqui. Só isso! Porque entro nesse consultório e você me diz meia dúzia de palavras e saio. É assim toda semana.
- É o procedimento da clínica. Se não está satisfeita faça uma reclamação à diretoria. E quanto a você estar aqui eu já disse, se nenhum familiar prontificou a responder isso, não será de mim que terás a resposta. Bom sua medicação terá somente uma alteração. Passarei tudo para a responsável. Mais alguma pergunta?
Antes dele terminar o som da porta batendo já respondera sua pergunta.

Não era justo, ela estava la a 4 meses e seu irmão nem visitá-la ia. Ela espera alguma coisa, carta ou ligação e nada. a revolta crescia de forma horrenda dentro daquele vazio imenso que ela sentia.
- Você sabe que não são permitidas consultas fora da ordem pré estabelecida aqui, mas abrirei essa excessão. Diga o que lhe incomoda.
Ela com toda sua ira bateu com as duas mãos na mesa, o que fez ele tirar os olhos do formulário e olhar pra ela.
- Isso olhe nos meus olhos. Você nunca faz isso porque? Tem medo de lhe ver atrás de cada dor, cada lágrima, cada grito contido nos olhos dessas garotas? É isso? Tem medo de ver alguma frustação sua nos nossos olhos? Se for então olhe só pra mim. Somente pra mim , porque eu guardo cada ressentimento de cada uma aqui dentro. Enxergue o que realmente sentimos e pare de olhar só pra dentro de ti. Ou será que você nem olha pra dentro desse vazio que você deve sentir. Porque é isso que vejo em seus olhos. Eu não te conheço lá fora, não sei da sua vida familiar, do seu consultório particular, eu não sei de nada, mas você sabe muito de mim e de todas aqui e nos ignora, sabe porque? Porque você é mais vazio que todas nós aqui dentro!!!
Ela foi interrompida por dois enfermeiros que entraram e a levaram pela 1ª vez pra reclusão.
Um quarto com uma cama e nada mais. E lá ela chorou como uma criança encolhida no chão. Chorou até adormecer. E quando os primeiros raios de sol surgiam no horizonte a porta abriu:
- Vamos, levante do chão. Arrume suas coisas. Seu irmão mandara alguém te buscar.
- Eu sabia que ele me tiraria daqui.
- Não foi ele! Foi do doutor Carlos Alberto que lhe deu alta.
Ela ficou perplexa, enquanto a enfermeira a ajudava a levantar. Era o fim das folhas daqueles cadernos do quarto de borboleta.

Fazia um mês que ela havia deixado 4 meses de dor para trás. Seu irmão tentou explicar algumas coisas, mas ela não quis ouvi-lo, apenas disse que iria mudar de cidade, pra longe dele, ter sua liberdade. Ele quis interferir, mas ela estava determinada a deixar grande parte de sua historia para trás.
Os novos ares estavam mais limpos, e os jardins pareciam ate ser mais coloridos. Ela não se curou, o vazio estava lá, mas agora ela sabia lidar mais com ele.

"Medico renomado é encontrado morto em seu próprio consultório, a polícia concluiu que ato foi realmente suicídio". Ela não acreditava no que estava lendo. Sim o doutor Carlos Alberto havia se matado com um tiro na boca deixando esposa e 2 filhos. Uma notícia que ela leu inúmeras vezes tentando achar a resposta para tal ato, mas nenhuma palavra respondia tal questão.
A resposta só viria em uma carta, que ela recolheu 2 dias após o acontecido. No envelope só o nome dela e endereço.
Sentada na pequena mesa alojada no que ela transformou em escritório ela leu a despedida de Carlos Alberto. Ela abaixou a cabeça e chorou, como naquele ultimo dia na clínica.
"Obrigado por mostrar o quão hipócrita e vazio era esse ser. Agora consigo me olhar no espelho e despedir da melhor forma dessa vestimenta ridícula que carrego a anos!" - Carlos Alberto.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Loucura...Apenas um Grito!

Ela acordou assustada, sem saber o que havia acontecido.
Palavras, imagens, gestos, pessoas, choro, dor, remédios. Era tudo um emaranhado de situações incompletas em sua mente, que ela tentava de forma rápida juntar tudo para saber o porque ela estava ali naquela situação.
Com as mãos e os pés amarrados naquela maca, ela só podia sentir a dor insuportável em seus pulsos, principalmente no direito onde um cateter estava alimentando suas veias com a substância que ela já conhecia.
Sem forças, ela mal conseguiu pedir pra alguém desamarrá-la, mas aquela pessoa a ignorou, como outras várias o fizeram. Ela não podia se mexer mais, porque a dor tornara-se mais do que insuportável.
O cheiro de morte e loucura era nítido naquele lugar. O que ela fazia ali???
Seu instinto de defesa só lhe disse uma única vez: 'Só sobrevive nessa selva os animais mais espertos.'
Lógico, ela era presa fácil ali. Se debatendo, fazendo barulhos era chamar a atenção do s animais vorazes.

Quando a frágil 'presa' estava prestes a desmaiar, algum ser de "bom" coração resolveu lhe dar atenção.
- Vejo que acordou dos longos dias de irrealidade.
- Poderia ter a bondade de me desamarrar, meu pulsos doem...sinto minhas mãos inchadas e um grande desconforto. Quero ir ao banheiro, se possível ate tomar um banho.
- Farei isso se me prometer que irá se comportar com uma boa garotinha. Lembre-se, que você é fraca, quase inerte, enquanto nós somos o poder. Qualquer que seja seu pensamento ou ato contra nossas normas, você volta para esse estágio deplorável que se encontra. Estamos estendidos?
O olhar dele era tão frio que ela não conseguiu pronunciar um SIM, por isso balançou afirmativamente a cabeça.
Quando o 'coração gélido' desamarrou as suas mãos, ela pode ver a gravidade da sua dor. Suas mãos estavam o quádruplo do tamanho normal e roxas. 'Por pouco não perco as mão que dão vida à um piano'.
- Pronto, agora aguarde aqui que irão trazer-lhe componentes para que você tome um banho, aliás a precisão disso é nítida.
- Obrigada. O senhor é médico? É que não consigo me lembrar de como cheguei aqui, ou melhor, o por que estou aqui. Tudo está muito confuso.
- Não importa o que eu seja, aqui não. E não se preocupe quanto ao fato de como e porque você está aqui. Afinal, todos dizem isso mesmo.
Antes que ela pronunciasse mais alguma palavra ele virou as costas e disse apenas " Não esqueça, estamos de olho".
Alguns minutos depois veio uma mulher e lhe entregou os 'componentes' e a levou ate o banheiro.
Nada muito agradável, mas era um banheiro limpo, com vários chuveiros e vários lavabos, isso separados dos vasos sanitários por uma longa parede.
Enquanto ela se banhava, a mulher com olhar ríspido e postura militar aguardava na porta do 'banheiro coletivo' (ela ficou sabendo tal nome alguns dias depois). Não dialogou uma palavra não ser o "acabou?" e entregou uma roupa que parecia mais um pijama de dias de inverno na tonalidade azul claro. Ela vestiu sem questionar, mas as perguntas não iriam sumir assim do nada de sua mente.
- Olha sei que a senhora deve ser orientada para não falar nada, ou algo do tipo. Mas eu preciso saber que lugar é esse. Como vim parar aqui. Até quando ficarei. Quero telefonar para meu irmão, ele resolverá tudo, questões financeiros e burocráticos.
- Você pergunta demais como todas. Então vou responder como respondo a todas: amanha vá até a diretoria e pergunte. Agora me acompanhe até seu quarto. As normais são simples porem com uma única regra: não infringí-las. Você ficará com mais 3 garotas, então nada de brigas. As 22 horas todas devem estar em suas camas. Só se você estiver a fim de infringir esta regra, mas eu não lhe aconselharia. As refeições são servidas sempre, pontualmente, às 9 da manha, às 12:00 horas, às 3 da tarde, às 7 da noite e depois às 9 da noite. As suas acompanhantes de quarto sabem o caminho, é só acompanhá-las. Quanto a sua medicação, assim que sair a lista certinha vou te passar o local e horários parar que você vá toma-los. Alguma pergunta?
- Medicamentos? Como assim? Não, eu preciso ligar pra alguém. Eu nem sei onde estou.
- Pense no seu passado e você verá se não deveria estar aqui agora.
Aquela mulher com ares militares nem deixou ela abrir a boca, foi logo colocando algumas coisas em cima de uma cama beliche e apresentando as suas companheiras de quarto.
- As que estam aqui a algum tempo, lembrem-se nada de badernas e conversinhas, e sejam sociais com a nova colega de vocês. Amanhã leve-a ao refeitório e mostre o que realmente interessa.
Fechou a porta com a mesma sensibilidade que abriu, e ela ficou olhando para aquele quarto, para aqueles três pares de olhos curiosos que tinham muito a perguntar, mas será que algum deles teriam as respostas que ela procurava?

sábado, 18 de agosto de 2007

O MEU Desafio

Não eram estas palavras que pretendia escrever.
Estavam todas anotadas em um simples caderno espiral.
Iria pela primeira vez falar aqui de uma história com uma personagem 100% real...sem irrealidades. Ia falar do meu dia.....dos acontecimentos que me deixaram tristes e das pequenas coisas que me deixaram felizes, mas o fim da noite mudou tudo.

- Não faça nada por favor, as 11 nos falamos!!
- Então se segure também!!!

Mensagem, ligações, caixa postal, mais mensagens, depois chama, ninguém atende....

- Não sei o que estou fazendo ainda aqui!
- É mesmo não sei o que você está ainda fazendo aqui!
- Ok, então adeus!
Caminho escutando Pantera.....as 3 da madruga.
Deparo mais uma vez com aquela ponte, ela me desafia. Eu te falei lembra?
Só fiquei olhando, o frio cortava minha pele como gilete.

- Vamos conversar.
- Me esquece, afinal todos me esquecem.
- Ok, então adeus!!! ( agora era a vez oposta)

4:26 da manha e o desespero me consumo....o que irá acontecer....isso só minha insanidade saberá responder.
Espero não ser meu ultimo post.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Amargo gosto do Doce Veneno

O barman recusava-se a servir mais uma dose de uísque para Paulo, alegando que o nível alcoólico dele já estava 'nas alturas', que o mais viável era que alguém viesse buscá-lo, porque ele não tinha nenhuma condição de dirigir.
Silas, era barman de um Pub frequentado por executivos, trabalhadores engravatados e mulheres de padrão monumental durante a semana inteira, exceto nas segundas-feiras.
Paulo já era bem conhecido por aquelas mesas e balcões, com um copo de uísque, a gravata afrouxada e uma expressão de cansaço e tristeza. Não era de muitos amigos. Uns ou outros iam trocar algumas palavras com ele, e este respondia com pouco interesse.
Ele ficava ali , sentado, com os olhares perdidos nas mesas que ficavam do lado de fora do Pub.
Silas sempre desconfiara o que ele olhava, mas nunca se atrevera a perguntar. E no seu silêncio Paulo se afogava na bebida. Quem sempre ia salvá-lo de um desastre automobilístico era seu primo Tadeu. Esse sim, Silas admirava. Porque era o único que olhava o pobre do Paulo caído no balcão não com olhos de reprovação, mas com um olhar que talvez soubesse o porque de tanta dor.
Ele juntamente com sua esposa, que sempre mostrava-se apática com a situação, levavam aquele homem que para Silas, tinha muito a dizer, mas preferia se calar.

Por uma semana seguida Paulo não apareceu no Pub. Silas tentou obter alguma informação sobre seu paradeiro, mas as respostas eram sempre evasivas. As pessoas simplesmente não se importavam umas com as outras naquele ambiente, onde o dinheiro sempre falava mais alto.
E por uma semana Paulo não apareceu, nem no Pub e nem no prédio em que trabalhava, que ficava bem à frente do bar.
Mal sabia, que em meio a seu silêncio constante, Paulo tinha um amigo, que controlava seus excessos, que ligava para seu primo para que ele chegasse bem em casa. Silas não sabia se ele era casado, quantos filhos tinha, se era feliz ( a aparência facial deixava transparecer que não), e o que tanto lhe atraía nas mesas exteriores do Pub, e o porque ele não ia até lá. O que o impedia?
Assim Silas ficava observando tudo como um filme em que os personagens não se interagiam.

Após uma semana de total ausência, Paulo aparece no final de seu expediente, com uma aparência abatida e com uma tristeza estampada em seu rosto.
Sentou-no juntamente ao balcão e pediu uma dose de uísque, mas dessa vez sem gelo. Silas estranhou o pedido, porque Paulo sempre pedia 'por favor, o perfeito com 3 pedras', e Silas trazia uma dose de uísque com 3 pedras de gelo. Sem contestar ele atendeu o pedido.
E quase num gole só o liquido amarelado desceu garganta adentro de Paulo.
Sacudindo a cabeça ele olhou para as mesas externas, uma lágrima começou a escorrer.
- Sabe Silas, eu frequento aqui a mais de 3 anos e trocamos algumas palavras, como troquei algumas raras com pouquíssimas pessoas, mas hoje o meu maior remorcio é não ter levantado dessa porcaria de banco e ter ido até uma mesa ali fora, numa frequência de uma vez por semana. Se eu tivesse feito isso talvez teria feito a diferença. Mas agora é tarde demais Silas. Agora não faz mais diferença.
- Que isso Sr. Paulo, há tempo pra tudo, nunca é tarde. Se não tem como o Sr. fazer isso hoje, faça amanhã, ou depois, ou até que essa pessoa apareça. Bom, creio que o Sr. esteja se referindo a uma pessoa, estou correto?
- Sim Silas, uma pessoa magnífica. Alguém que se escondia atrás de seus temores com medo de mostrar para o mundo o seu verdadeiro potencial, talvez porque disseram algum dia para ela que ela não era capaz de tal coisa, ou porque ela vivia num mundo muito além do nosso. Consegue me compreender Silas?
- Bom Sr. Paulo, sei que existem muitas pessoas que não acreditam em seus próprios potenciais, mas isso se for trabalhado, com calma poderá dar belos frutos. Talvez essa pessoa só necessite de pessoas como o Sr. cheguem até a ela, e comecem a mostrá-la seus potenciais, porque isso está dentro de cada, as vezes precisamos só de um pouco de atenção.
Foi nesse exato momento que Paulo deixou-se debruçar no balcão e as lágrimas não puderam ser contidas.
Paulo chorava pelo remorcio de nunca ter dado uns passos a mais e sentado junto àquela que ele cortejava à cerca de 2 anos.
Ela sempre tentando passar despercebida por todos, com a cabeça baixa, com suas roupas pretas e um jeito peculiar de levar o cigarro até a boca. E ele sempre observando ela, concentrada em seu trabalho, ou então nos intervalos, debruçada na ala dos fumantes do departamento e uma vez por semana ela sentava na mesa mais isolada do Pub para ler livros que com certeza contavam histórias que ela sonhava um dia pertencer.
Mas agora era tarde! Mariana havia deixado aquele mundo a exatamente uma semana, e durante esses sete dias Paulo chorou por cada dia que ele teve a oportunidade de salvar Mariana e não fez de pura covardia.
- Acho que o Sr. precisa de mais uma dose para acalmar.
- Não Silas, o que eu realmente precisava agora não tenho mais, então doses não me satisfazem mais. Antes ficava aqui, sentado, bebendo, tentando ao menos ter coragem, hoje não tenho mais motivos para estar aqui. Hoje deitarei com minha amada.
Paulo deu as costas e Silas teve a certeza de que jamais veria Paulo novamente.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Corrupção e meia dúzia de Palavras

- Porra, cadê os bancos que estavam aqui? Malditos arquitetos, ou seriam os vândalos?
Fodam-se todos. Só sei que faltam bancos para sentar aqui.
Homens, seres humanos, nunca irei entendê-los. Tento achar respostas para minhas inúmeras perguntas, mas só consigo mais perguntas.
Em meio a meus pensamentos, no meio do nada, preenchido com algumas coisas, encontro um banco.

Palavras, como amo as palavras. Elas ficam flutuando na minha mente o tempo todo. É como um barquinho feito artesanalmente por um pai que quer ver a alegria nos olhos do filho quando este soltá-lo nas águas do lago mais próximo.
Caralho!!!!!Mas do que estou falando????
Enquanto penso em barquinhos um grupo de 'sei-lá-o-quê', manisfestam por 'alguma-coisa' em 'algum-lugar' perto do banco em que me alojei.
O eco não deixa meus ouvidos destinguirem de onde vem o tumulto. Ou seriam apenas vizinhos de algum bairro (será que aqui existe isso?) reivindicando um melhor saneamento básico?
Esqueço o tumulto e me disperço olhando o céu extremamente límpido. A minha mente simplesmente voa como um avião. Asa Sul, Asa Norte, caramba, em que ponto estou? Tomara que seja em uma poltrona bem agradável na primeira classe de um airbus da TAM.
- O museu fecha as 17:00 horas?
- Pô cara, não sei, mas deve ser, tudo que é cultural nesse país fecha cedo.
Tinha que ter alguém para acabar com meu vôo perfeito da TAM.
Mas não importava mais, porque o cenário de falsa calmaria começava a tomar formas. Formas de pessoas podres: Políticos!!! Sim, eles trabalham, tão pouco como os funcionários das estruturas culturais. É, os políticos, fecham as cinco da tarde.

A minha frente uma cultura e uma podridão e atrás outra cultura.
Eis o cenário que me cerca. Meus olhos não sabem pra onde seguirem.
As pessoas aqui não são tão calorosas como as do buraco que saí, mas mesmo assim não tenho vontade de voltar pra lá.
É mas tenho que ir, afinal a grana acabou.
- Sua idiota, se a grana acabou, como você vai embora?
Por que minha consciência na maioria das vezes têm que me lembrar de fatos tão desagradáveis?
- Bom, ainda não sei querida consciência! Se eu me refugiar aos meus patronos levo ferro. Hum, amigos???? Talvez algum esteja em uma situação melhor que a minha. Resumindo: não sei!! Não tenho crédito nem no banco. Ha - Ha - Ha- Ha (expressao típica "rindo para não chorar").
Esqueço um pouco a delicadeza de minha consciência e começo a prestar atenção na passeata (soa mais chique do que manifestação) da CUT (que pena que não era de vizinhos reivindicando uma padaria no cruzamento da rua treze com a vinte oito). Coitados, acreditaram em um homem que prometeu mundos e fundos e acabaram na mão.
E eu? Confiei na gerente do meu banco e agora estou ferrada.
Acho que vou acompanhar a passeata.

sábado, 11 de agosto de 2007

Doce Veneno das Diferenças

O único barulho que ela sempre ouvia todos os dias ao chegar naquele cubículo que insistiam em chamar de apê era o do molho de chaves caindo sobre a mesa.
Mariana deixava sempre seu corpo cair sobre o sofá, que por incrível que pareça transformava-se em um sofá cama.
O cansaço tomava conta de cada canto de seu corpo. Era assim todos os dias, claro, tirando os sábados e domingos, que eram iguais a todos os outros sábados e domingos de sua vida naquela cidade.
Claro que morando sozinha a 3 anos ela não precisava de um lugar maior. Aquela kitnet era suficente. Uma sala conjugada com uma cozinha que ela mesma dizia não ser uma cozinha e sim uma coisinha, uma lavanderia que cabia ela e nem mais um gatinho e lógico, a suite. Ahhh, a imensidão de um quarto que não era considerado quarto, com uma cama, um pequeno guarda-roupa uma minúscula escrivaninha que só cabia seu notebook e uma luminária e um banheiro que comportava só ela, um espelho e seus comprimidos.
Ela sempre pensava em se mudar daquele cubículo, mas já era dolorido ver tantas paredes, tantos espaços vazios. Por isso Mariana ainda permanecia ali, com sua rotina casa-trabalho-casa. No fim de semana, supermercado-casa-tv-muito cigarro-bebida-cama-notebook e lá se ia o domingo.
No departamento em que ela trabalhava existiam cerca de 50 funcionários. Todos andando pra lá e pra cá o tempo todo, sentando e levantando de seus guichês com pilhas de papéis ou apenas para mostrar a sensualidade de uma saia ou um decote novo, ou de uma gravata importada combinando com um sapato de 350 reais. Enquanto Mariana evitava o máximo não levantar, para que ninguem percebesse o seu tubinho preto, ou então seu conjunto pretinho básico para sempre disfarçar suas gordurinhas, para não falar poças de banhas acumuladas pelos culotes, braços e todo o resto do corpo.
Ela odiava ver aquelas mulheres esbeltas passeando pelo departamento, enquanto os homens, maravilhosos, giravam suas cadeiras e comentavam com mais meia dúzia de beldades, e elas lógico, soltavam aquela risadinha que ela simplesmente odiava.
Mariana chegava a ter pensamentos insanos, como desfigurando aquelas loiras, morenas e ruivas com corpos esbeltos, pernas torneadas, seios pulando em decotes. Sua ira era transpassada pelos lápis que ela vivia quebrando.

Mais uma segunda. Mais um dia de ressaca.
- Meus Deus Mariana você fuma demais, essa sua ansiedade é que não lhe deixa emagrecer.
Essa era uma das morenas esbeltas que Mariana queria desfigurar ou então jogar daquele 12º andar.
- Talvez seja mesmo Andréa, mas são prazeres que não largo por nenhuma tortura em academias.
- Talvez se você fizesse um esforço não estaria solteira.
Mariana quase comeu o cigarro naquele instante. Ao fundo pôde ouvir as risadinhas infames de Andréa e Cia.
Na verdade ela queria um buraco para enfiar a cabeça. Ser um avestruz. Mas pensou: Avestruz gorda??? Isso não existe. Lembrou das inúmeras dietas que fez, experimentou e que jamais surtiram efeito, então havia uma explicação: maldita GENÉTICA!!! Sim, sua mãe é gorda, sua avó era gorda, a mãe de sua vó era gorda.
Em meio a sua árvore genealógica, ouviu o chamado do seu chefe, mas uma reunião, mas uma inutilidade.
Uma hora e 25 minutos depois de metas e mais metas a serem cumpridas a tortura acaba, Mariana guardando toda a parafernalha vê o grupinho de Andréa olhando e soltando gargalhadas. Ela suspirou fundo, sim aquele seria um daqueles dias muito difícies.
O restante do expediente não rendeu mais nada para Mariana, que trancada no banheiro esperou todos deixarem o departamento. Pegou suas coisas, entrou no elevador onde um casal de 'gostosões' se beijavam, estava tão trêmula que mal conseguia abrir a porta de seu carro.
No caminho ela pensava que não podia beber, afinal era segunda e amanhã seria um dia cheio. Metas, metas, metas!!!!
Fodam-se as metas. foi a ultima coisa que ela pensou antes de estacionar o carro em um supermercado. Abasteceu o carrinho com muita vodca, uisque, cerveja e cigarros.

Dessa vez o 1º barrulho a ser ouvido não foi o do molho de chaves tocando a mesa e sim os das garrafas batendo uma nas outras.
- Já que não tem ninguem pra brindar comigo, brindo sozinha.
Mariana destacou todos os seus antidepressivos das cartelas, todos seus ansioliticos. E com essa mistura bebeu até apagar completamente.

- Andréa, o que está acontecendo??? Porque estão nos mandando pra casa?
- Ai, como sempre você é a última a saber Jú. A Mariana, se matou.
- Como assim? Meu Deus!!!! Se matou, mas por que?? Que motivos ela tinha pra isso???
- E eu que vou saber??? Deve ser porque ela era infeliz com seu corpo e tal, sei la.
- E o que ela fez??
- Misturou bebidas com remedios, esses antidepressivos e tarjas pretas. Bom, foram o que me disseram. Agora estamos dois dias dispensados.
- Ela tomava esses tipos de remédios??? Jamais desconfiaria.
- É mesmo Jú??? E eu jamais desconfiaria da primeira vez que a vi que você era tão burra.
Mas tirando essa sua falta de neurônio temos que fazer uma "média" e ir no enterro e curtir esses dois dias de "folga". Aliás, ninguém aqui na repartição tá afim de se matar não hein? É que quero colocar silicone e o chefão não quer liberar e esperar mais 6 meses para minhas férias não dá né......