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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Um Grito Apenas.....O que seria loucura???

Camila, cabelos pretos, pele branca, toda marcada e um olhar triste.
Fabiana ,cabelos cor de mel, pele morena e um sonho obsessivo: ser magra.
Lívia, cabelos curtos numa tonalidade castanho escuro, de poucas palavras.
Estas eram as colegas de quarto, todas com idade entre 20 a 23 anos. Era com elas que a 4ª integrante do quarto borboletas, como era chamado por Camila, iria conviver por aqueles longos 4 meses.
Em poucos dias ela aprendeu que realmente as regras deveriam ser seguidas, e que sua medicação era composta por 3 remédios de cores diferentes, ministrados 3 vezes ao dia na chamada Farmácia, onde ela preferia chamar de 'manutenção de dementes'.
Os remédios lhe deixavam com o raciocínio lento, apática.
Durante um mês inteiro ela tentou falar com o irmão, que tomou conta das empresas dos pais ,depois que estes se foram.
Eram só ele e ela. Como ela sofria com a merda da depressão e ninguém dava créditos por isso, ficou nas mãos do irmão a responsabilidade de continuar o que os pais tinham construído.
Ele sempre cuidando dela, mas parece que dessa vez ele havia se cansado.
Ela tentou, ligou e nada. Sempre a secretária dizia que ele estava viajando, em reunião, ocupado, etc e tal. Na sua casa ela só falava com a secretária eletrônica, sem nenhum retorno. Mas durante os 4 meses que ela esteve lá, era integre a ela toda semana uma carteira de cigarro, 'créditos do seu irmão' - disse uma das enfermeiras- que era o permitido nas normas internas, e um caderno e uma caneta por mês. Dava pra fumar um cigarro ou dois no dia, nos chamados 'banhos de sol', que ela comparava com o momento dos presidiários saírem no pátio e fazerem alguma coisa.
O resto do dia era tudo horrível. Tentavam fazer com que alguém se interessasse por atividades que surtiriam efeito no tratamento. Mas pra ela aquilo tudo era uma imbecilidade que não mereciam mérito algum. Então ela escrevia. Por isso do caderno e da caneta todo mês, porque seu irmão sabia que ela amava escrever.
Folhas e mais folhas contando o sofrimento de Camila que já estava naquele 'inferno' há 3 meses. Não havia um lugar do seu corpo que não houvessem cicatrizes. A dor e o pesar de viver eram nítidos no olhar de Camila. Uma garota que gostava de pintar e sonhava conhecer Londres, isso só não aconteceu devido suas crises e o seu sério problema com o cutting. Ela era vigiada o tempo todo e viva na 'reclusão' por causa de suas crises. Os seus gritos doíam na alma.
Já Fabiana era faladeira, vivia falando o quanto queria ser magra, desfilar em passarelas e ter o glamour das grandes tops models. Ela já era alta e magra, mas insistia em emagrecer mais e mais. A solução??? Interná-la. E tentar fazer com que ela intendesse que poderia morrer por causa daquela obsessão. Fabi, como todas a chamavam já estava na clínica pela 4ª vez.
Lívia, essa era incompreensível. Estava sempre calada e tinha surtos de raiva onde era contida pelos enfermeiros e levada à reclusão.
Havia outras personagens, tantas que as folhas pareciam não ser suficientes. Tantas dores, dela, Camila, Lívia Fabi e de várias outras incompreendidas.

Outras duas normas que não poderiam ser descumpridas:
1 - a participação semanal na terapia de grupo;
2- a 'consulta' com o psiquiatra.
A consulta era intrigante. O medico, cujo nome era bem a cara dele, Carlos Alberto, mal olhava quem entrava em seu consultório. Só dizia o nome e fazia algumas perguntas e no fim dizia se iria continuar a medicação atual ou se algo mudaria. Todas pareciam um nada pra ele.

- Queria saber o por que estou aqui. Só isso! Porque entro nesse consultório e você me diz meia dúzia de palavras e saio. É assim toda semana.
- É o procedimento da clínica. Se não está satisfeita faça uma reclamação à diretoria. E quanto a você estar aqui eu já disse, se nenhum familiar prontificou a responder isso, não será de mim que terás a resposta. Bom sua medicação terá somente uma alteração. Passarei tudo para a responsável. Mais alguma pergunta?
Antes dele terminar o som da porta batendo já respondera sua pergunta.

Não era justo, ela estava la a 4 meses e seu irmão nem visitá-la ia. Ela espera alguma coisa, carta ou ligação e nada. a revolta crescia de forma horrenda dentro daquele vazio imenso que ela sentia.
- Você sabe que não são permitidas consultas fora da ordem pré estabelecida aqui, mas abrirei essa excessão. Diga o que lhe incomoda.
Ela com toda sua ira bateu com as duas mãos na mesa, o que fez ele tirar os olhos do formulário e olhar pra ela.
- Isso olhe nos meus olhos. Você nunca faz isso porque? Tem medo de lhe ver atrás de cada dor, cada lágrima, cada grito contido nos olhos dessas garotas? É isso? Tem medo de ver alguma frustação sua nos nossos olhos? Se for então olhe só pra mim. Somente pra mim , porque eu guardo cada ressentimento de cada uma aqui dentro. Enxergue o que realmente sentimos e pare de olhar só pra dentro de ti. Ou será que você nem olha pra dentro desse vazio que você deve sentir. Porque é isso que vejo em seus olhos. Eu não te conheço lá fora, não sei da sua vida familiar, do seu consultório particular, eu não sei de nada, mas você sabe muito de mim e de todas aqui e nos ignora, sabe porque? Porque você é mais vazio que todas nós aqui dentro!!!
Ela foi interrompida por dois enfermeiros que entraram e a levaram pela 1ª vez pra reclusão.
Um quarto com uma cama e nada mais. E lá ela chorou como uma criança encolhida no chão. Chorou até adormecer. E quando os primeiros raios de sol surgiam no horizonte a porta abriu:
- Vamos, levante do chão. Arrume suas coisas. Seu irmão mandara alguém te buscar.
- Eu sabia que ele me tiraria daqui.
- Não foi ele! Foi do doutor Carlos Alberto que lhe deu alta.
Ela ficou perplexa, enquanto a enfermeira a ajudava a levantar. Era o fim das folhas daqueles cadernos do quarto de borboleta.

Fazia um mês que ela havia deixado 4 meses de dor para trás. Seu irmão tentou explicar algumas coisas, mas ela não quis ouvi-lo, apenas disse que iria mudar de cidade, pra longe dele, ter sua liberdade. Ele quis interferir, mas ela estava determinada a deixar grande parte de sua historia para trás.
Os novos ares estavam mais limpos, e os jardins pareciam ate ser mais coloridos. Ela não se curou, o vazio estava lá, mas agora ela sabia lidar mais com ele.

"Medico renomado é encontrado morto em seu próprio consultório, a polícia concluiu que ato foi realmente suicídio". Ela não acreditava no que estava lendo. Sim o doutor Carlos Alberto havia se matado com um tiro na boca deixando esposa e 2 filhos. Uma notícia que ela leu inúmeras vezes tentando achar a resposta para tal ato, mas nenhuma palavra respondia tal questão.
A resposta só viria em uma carta, que ela recolheu 2 dias após o acontecido. No envelope só o nome dela e endereço.
Sentada na pequena mesa alojada no que ela transformou em escritório ela leu a despedida de Carlos Alberto. Ela abaixou a cabeça e chorou, como naquele ultimo dia na clínica.
"Obrigado por mostrar o quão hipócrita e vazio era esse ser. Agora consigo me olhar no espelho e despedir da melhor forma dessa vestimenta ridícula que carrego a anos!" - Carlos Alberto.

8 comentários:

Daniela Andrade disse...

caralho.

tou meio sem palavras agora. deixa eu ir ali fumar um cigarro e pensar. depois eu volto, talvez consiga escrever alguma coisa.

caralho.

Anônimo disse...

Brincadeira seus textos... meus parabéns!
Mas esse texto... me pareceu algo biográfico... posso estar enganada, mas foi o que me pareceu...
Me lembrou muito um livro que li há algum tempo atrás...

Até.

Unknown disse...

Eu queria ter palavras pra dizer sobre seu texto, mas não acho nenhuma...

Dany Lynn disse...

Bom a.l...agradeço por ter gostado de mues textos.
Bom aqui misturo o irreal com o real. Então hpa um pouco de mim sim...misturados com um emarrado de tulmuntos que surgem em minha mente.
Com certeza vc deve ter lido algo assim, afinal há bons livros que falam sobre o mundo dentro de hospitais ou clinicas psiquiatricas.

Onde me encaixo em cada texto???
Não sei. Chego a me perder entre palavras, lembranças e irrealidades.

Qtos aos meus queridos...obrigada pelo carinho...constante....
^^

kati, para os íntimos disse...

Puta merda


sem mais o que dizer

PUTAAAAAAAAAAAAAAAAAA merdaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!

" Isso olhe nos meus olhos. Você nunca faz isso porque? Tem medo de lhe ver atrás de cada dor, cada lágrima, cada grito contido nos olhos dessas garotas? É isso? Tem medo de ver alguma frustação sua nos nossos olhos? Se for então olhe só pra mim. Somente pra mim , porque eu guardo cada ressentimento de cada uma aqui dentro"

Daniela Andrade disse...

acho que agora eu consigo.

dany, um tapa na cara. foi o que senti quando li. um tapa na cara poético. hahahahaha.

somos doidas. ai, minha deusa, eu preciso MUITO te ver.

Daniela Andrade disse...

ah, tem texto novo no blog cognome.

Anônimo disse...

ah todos aqui ja disseram:
Caralho
Puta Merda
Sem comentários.

Entao digo
PUTA QUE PARIU!!!!

Esse merecia estar publicado na revista deste mês de Psiquiatria Brasileira.
Que porrada Dany!!!!
Você e sua magnitude.
Realmente comprovo: Vc é única!

Te amo!
(caralhooooo essa sua foto, meu, que saudades, hehe)