Minha lista de blogs

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Página em Branco

Sentada no banco a beira mar eu analiso os passáros retornarem para seus habitats e me pergunto por que não retornei para meu lar a dois anos atrás. Por que escolhi ficar sozinha depois de meses de reabilitação, por que escolhi me esconder. Talvez seja porque eu sempre fui um problema para todos, uma vergonha, um conto de terror e até uma mentira mal contada. Sinto-me como uma criança indesejada, que surgiu de uma fecundação forçada e nojenta e que veio ao mundo para sentir todas as dores da maldade humana.
Há duas semanas que não arrumo meu apartamento, há duas semanas que mal me olho no espelho porque sinto nojo do que vejo refletido, há duas semanas que não tomo meus remédios e que penso em voltar a beber e a fumar.
Agora estou no fim de uma tarde de outono à beira mar deixando meus pensamentos fluírem enquanto tento pensar em algo útil ou não pra noite que já está para surgir.
Penso que tudo poderia ser diferente, sempre pode, mas infelizmente escolhi os caminhos errados, com pessoas erradas, lógico algumas certas, mas foram as erradas que destruíram tudo. Poderia estar nesse momento rodeada de amigos em um bar qualquer, rindo de alguma história idiota contada por algum deles ou então estar caminhando nessa areia acompanhada por alguém que realmente me amasse ou ainda estar na clínica ou nunca ter passado por ela. Milhares de possibilidades, mas a realidade é uma só. Não há como escapar daquilo que é real, que está diante seus olhos, que faz parte de você.
A minha realidade terá um desfecho que eu a duas semanas atrás planejei, porque das minhas dores só eu sei, por isso que somente eu posso exterminá-las, afinal, ninguém nunca ouviu elas chorando.

terça-feira, 8 de abril de 2008

A cegueira que polui

Karine amava Lucas, que amava Paula, que parecia amar alguém, mas ninguém sabia realmente quem era. Sempre muito discreta, ela passava despercebia a vários olhares, exceto aos de Lucas, que a examinava sempre que ela passava com seu jeito desajeitado em frente ao seu bloco da faculdade. Cabelos lisos, mas sempre presos num rabo de cavalo e uma franja que escondia seus belos olhos negros, jeans e tênis compunham sua vestimenta diária. De cabeça baixa ela fazia seu trajeto diário, escondendo em seu olhar a tristeza que a acompanhava. Lucas sempre ensaiava de sentar ao lado dela na biblioteca ou nos intervalos de suas aulas quando Paula procurava os bancos mais afastados para ler e escrever, mas sua timidez sempre o impedia, então ele só se contentava em aprecia-la de longe enquanto seu pensamento viajava em sua pele e lábios nunca tocados por ele.
Mas próximo a Lucas estava sua melhor amiga, Karine, cabelos opostos aos de Paula, longos e cacheados, sempre soltos e com uma franja que não cobria seus olhos verdes. No lugar do tênis estava sempre saltos belíssimos que caminhavam em passos firmes e cabeça erguida. Karine não era esnobe e muito menos a típica patricinha metida, ela apenas era vaidosa demais e queria ser notada por Lucas, não como amiga mas como mulher, mas ela era apenas o ombro amigo que Lucas depositava todos seus desejos perante a doce Paula. Enquanto ela ouvia as juras de amor dele para aquela que nem sabia de sua existência, seu coração chorava e era esmagado, mas ela tinha que disfarçar porque não queria perder ele de forma alguma.
Semestres se passaram e tudo continuava na mesma, as esperanças de karine diminuíam cada vez mais por perceber que o amor platônico de Lucas por Paula só aumentava, e o desespero de Lucas começou a tomar limites estrondosos ao ver que Paula não o notava, mesmo ele sentando mais próximo a ela em várias localidades da faculdade. Ele se sentia um covarde por não se aproximar de vez, mas também sentia uma enorme rejeição por ela não corresponder a nenhum olhar dele.

Último semestre, Lucas agora não tinha mais escolha, desde o segundo período de sua facul ele observava Paula, e seu tempo agora era restrito, ele teria que agir antes que ele e Paula tomassem rumos diferentes
- Karine, hoje falarei com Paula.
- Como assim Lucas? Falará na bucha que gosta dela, que vem observando ela a tempos e que possui um amor platônico por ela? E então puxará ela pelo braço e roubará um beijo?
- Lógico que não, mas hoje irei sentar ao lado dela, vou começar a fazer o que eu deveria ter feito a tempos.
- Mas Lucas, pense bem, ela nunca te deu bola, sei lá, não quero que você saia magoado dessa história.
- Eu sei que você é minha melhor amiga e que se importa comigo, mas sei também que queres a minha felicidade, por isso irei sim, hoje mesmo sentar ao lado dela. Me deseje boa sorte!
Karine não sabia o que dizer, e pela primeira vez seus olhos não conseguiram disfarçar a tristeza daquela decisão, uma lágrima banhou seu rosto.
- O que foi? Você está bem? Por que está chorando?
- Nada Lucas, lógico que desejo tudo de bom pra ti, quero lhe ver feliz sim, por isso vá lá e conquiste quem você ama de verdade.
- Oh Karine, já sei, você ficou emocionada ??? Está orgulhosa de mim! Obrigada amiga, te adoro demais.
Lucas saiu em direçao à biblioteca enquanto Karine tentava esconder suas lágrimas.
Dias se passaram com Lucas sempre as voltas com Paula, de longe Karine, que agora não tinha tanta importância pra Lucas, via os dois trocar gargalhadas. Assim Karine começou a se transformar em uma antiga Paula, despercebida aos olhos de muitos.

Após um mês da primeira aproximação de Lucas, ele resolveu se declarar à Paula. No intervalo de suas aulas ele resolveu tomar fôlego e abrir seu coração.
- Paula preciso lhe dizer algo. É uma coisa que está preso a muito tempo e não dá mais pra guardar só comigo.
- Nossa, o que é Lucas, assim você está me deixando curiosa, conte logo.
- Desde o segundo semestre que estou lhe admirando, não sei se você notou isso mas eu sempre tive medo de chegar em você e ser rejeitado por isso só consegui nesse último semestre, e depois que passamos a nos conhecer eu estou cada dia mais admirado e não consigo mais segurar esse amor que sinto por você. Eu sempre fui completamente apaixonado por você e sinto que você sente algo parecido por mim, então acho que não tem mais motivos para escondermos nossos sentimentos.
Paula ficou paralisada diante de todas aquelas palavras. Sua expressão era de surpresa.
- Ei Paula diga alguma coisa, diga que também me ama, que sente o mesmo por mim, não se sinta envergonhada, não precisamos mais disso.
- Nossa Lucas, eu....eu....
- Sim eu sei meu amor, sei que você também me ama.
- Eu amo!
- Eu sempre soube disso, não sei como fui idiota por esperar tanto tempo pra me declarar.
- Não, eu realmente amo é a sua amiga Karine e aceitei sua aproximação para que eu pudesse chegar mais perto dela, porque desde a primeira vez que a vi eu me apaixonei, só que como você nunca tive coragem de dizer nada, até porque minha situação é mais complicada que a sua.
- O que? A Karine? Você quer dizer que é lésbica? Eu me apaixonei por uma lésbica? Eu não estou acreditando no que estou ouvindo. Gastei meu tempo todo com uma sapatão. Não, não é possível.
- Olha Lucas, sou lésbica sim, mas me orgulho por não ser tão patética quanto você. Na verdade eu não precisava de você pra chegar até ela, porque sei realmente quem ela ama e que não teria chance nenhuma com ela, mas você veio até mim e eu pensei em pelo menos estar mais próxima dela, e te juro se eu tivesse conseguido isso, hoje daria o seguinte conselho pra ela: "Ame quem lhe ama, porque esse cara com nome de Lucas não merece alguém tão especial como você".
Paula pegou suas coisas e foi embora, deixando Lucas estagnado com duas informações que passaram despercebidos por seus olhos cegos por um amor platônico.