Sentia cada gota de chuva tocando meu corpo. Meus pés deslizavam suavemente pela grama. De olhos fechados e braços abertos, eu podia sentir a minha alma ficar mais leve a cada toque suave da mãe natureza em meu corpo. Minha mente esvazia aos poucos e as batidas do meu coração tornam-se a cada segundo mais sutis.
As lembranças de uma infância em um passado distante rodeiam o habitat, dissipando juntamente com o vento.
Abro os olhos e vejo as flores dançarem em um ‘ritmo único’, ao som da chuva acompanhada do vento. Cada uma com sua beleza e tonicidade encantam meus olhos, fazendo meus lábios desenharem um belo sorriso.
Aprecio o cenário daquela tarde de outono com um olhar ingênuo. Como se toda àquela pintura fosse novidade para as minhas lembranças.
Vejo-me com dez anos de idade, correndo atrás das borboletas multicoloridas que delicadamente pousam na imensa variedade de flores. Eu me imaginava um ser alado e tentava imitar os movimentos daquela variedade de asas, enquanto as pétalas eram levadas ao longe pelo sopro do vento.
Volto ao meu corpo amadurecido que já tem a consciência de que não pode ser Alado, mas que brinca novamente de Bem-me-Quer com uma margarida. A chuva deixa as pétalas pesadas, mas não desisto da cena registrada em minha mente. O vento não pode levá-las, por isso deixo-as deslizarem pelas minhas mãos até tocarem o chão.
A noite começa pedir licença para os raios solares. È hora de despedir daquela obra-prima. Suspiro e solto um grito, uma mistura de alegria, dor e saudades. Assim deixo registrada minha presença e volto caminhando para a realidade. Carrego o meu corpo molhado e uma alma mais leve. Deixo plantada naquela terra o peso de uma existência.
Uma canção acompanha o despir de minha veste.
Com minhas asas multicoloridas abandono o casulo. Com a ajuda da natureza deixo de ser uma lagarta aprisionada para transformar-me num lindo Ser Alado.
Agora sou livre, pronta para viver uma nova vida.