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quarta-feira, 12 de março de 2008

Liberta do casulo

Acendo o vigésimo cigarro do dia e vou para varanda contemplar a vista. Olho para o relógio e confiro que faltam quinze minutos para que Gustavo entre por aquela porta, jogue as chaves em cima da pequena mesa, retire seu paletó, afrouxe a gravata e se esparrame no sofá, logo em seguida ele reclamará como todos os dias de seu emprego e consequentemente do seu chefe. E continuará a repetitiva crítica do seu ganha pão sem ao menos perguntar como foi o meu dia, se tive problemas ou não no meu trabalho, se estou feliz, se briguei no trânsito ou o que comi no almoço. Por exatos 5 anos essa era a rotina de fim de tarde e começo das noites. As manhãs não eram diferentes. Eu sempre levanto antes dele, tomo banho e quando estou terminando de tomar um leve café da manhã ele está levantando, e quando saio ele está se sentando à mesa, trocamos um singelo beijo e assim partimos cada um para um lado da grande cidade.
Durante esses quinze minutos lembrei-me de quando éramos felizes, e havia toda aquela magia do tal amor. Fiquei me perguntando nas duas últimas semanas aonde foi parar todo o sentimento que sentíamos. Talvez ficou em nossas casas quando ainda morávamos cada um em seu canto.
Meus pensamentos dispersam com a paisagem e só volto à realidade quando a porta se abre e toda a cena que descrevi acontece.

- Eu deveria ganhar o dobro do meu salário por ter que aguentar tanta estupidez e humilhação.
- Gustavo antes que você proceda com seu martírio diário, precisamos conversar.
- Cris, você está debochando de mim? Porque senti que você usou a palavra martírio em um tom bem sarcástico.
- Tenha a santa paciência, estou querendo conversar algo sério e você está aí pensando em sarcasmo?
- É que você é craque nisso, eu não te conheço de ontem, então economiza, por favor, meu dia foi horrível.
- Ah, mesmo Gustavo, seu dia foi horrível? Me responde uma coisa, a quanto tempo você não pergunta como foi o meu dia?
- Eu sempre pergunto.
Ok! As vezes não pergunto eu sei, isso é um erro.
- Erro? Você não dá a mínima pra mim. Por isso me deixe lhe dizer como foi o meu dia. Eu acordei com dor de cabeça, quase me envolvi num acidente horrível de carro por isso cheguei atrasada no meu trabalho, mas lógico que meu chefe não quis saber do que aconteceu e ouvi por mais ou menos 30 minutos todos os meus defeitos possíveis e impossíveis e juntando esse tempo com meu atraso acabei não indo almoçar, no meio da tarde meu estômago doía e o que amenizava minha raiva era um cigarro e outro. Quando saí do meu belíssimo emprego passei no supermercado e peguei duas garrafas de vodka, mas acabei não levando porque lembrei que você não gosta que fumo e muito menos que beba. Então voltei pra casa e fumei 5 cigarros até o momento de sua chegada, e fiquei pensando o quanto você já me amou um dia, mas como num passe de mágica tudo desmoronou.
- Cris, não sei o que dizer, me desculpe. Olha daqui pra frente será diferente, eu vou mudar.
- Vai mesmo Gustavo, porque eu estou me mudando da sua vida pra sempre. Eu mereço ser feliz. Mereço alguém que dê pelo menos um pouco de valor na minha pessoa, nos meus sentimentos.
- Você não pode fazer isso, tem que me dar uma chance. Não é justo!
- Você teve quase 5 anos de chances. Não é justo eu continuar nessa suposta vida.

Pego minhas chaves, bolsa e mais cigarros.
- Aonde você pensa que vai?
- Estou me libertando de você Gustavo e de sua vida patética que me fez adoecer aos poucos. Chegou a hora de me libertar.
- Isso não ficará assim Cris, não mesmo!
- Com certeza não, mandarei um caminhão pegar minhas coisas essa semana ainda.

Bato a porta, respiro fundo e entro no elevador, uma lágrima tema em cair, mas meu sorriso encobre-a rapidamente. Eis o inicio de uma nova vida.

8 comentários:

Anônimo disse...

Pq demoramos tanto pra perceber que certas pessoas não pertencem mais a nossa vida?
Como o tal 'tapa na cara' demora a acontecer e na maioria das vezes, demora e muito.

Viva Dany, vc merece mais do que qq ser presente nesse mundo mesquinho.

Amu tu pekena!!!

Anônimo disse...

Pensei que ele ia matar ela =P
isso daria um toque final perfeito...

eu sei como é isso. recentemente, lá se foi uma amizade que eu gostei muito, por certo tempo, em partes por isso. mesmo que a pessoa não possa fazer absolutamente nada pra me ajudar, é bom poder desabafar com alguém. confesso que não gosto de todos me perguntando "como está?", "como foi seu dia?"... mas acho que à partir do momento em que uma pessoa se sente no direito de ficar horas choramingando no seu ouvido, ela deve ao menos te perguntar como se sente. promessas... elas não me agradam. na hora do choque as pessoas prometem muitas coisas, mas quase sempre esquecem tudo o que prometeram, rápido...

Anônimo disse...

Um tempo ausente deste belo cantinho.
Preciso tomar uma descisão como a sua personagem.
Há momentos em nossas vidas que mudanças são inevitáveis, para que possamos continuar vivendo.

Anônimo disse...

É como se eu estivesse vendo um filme as palvras se transformam em imagens. Como se o conto transforma-se em realidade, como se eu estivesse vivendo-o.
Suas palavras são magicas.

kati, para os íntimos disse...

eu to cansada e naum li tudo

amanha termino de ler
desculpa
é o sono

te amo

Matheus Léda disse...

Se eu gostace de blog o seu ia c meu favorito Dany.
Bjo.

Anônimo disse...

Ai, gata, li já tem tanto tempo...e quando passei aqui pra ver se tinha atualizado aproveitei pra reler...adoro tudo que você escreve...

atualiza, vai!

saudade.

=**

Katiusca Demetino disse...

Nossa linda
meu amanha durou UM MÊS
uhuahuahuahuhauhauhauhauhuha