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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Um fantasma vivo

Você nunca soube lidar com os meus problemas. Eu, ao contrário, sempre lhe ouvi e ajudei a solucioná-los.
Sempre fui o seu porto seguro por muito e muito tempo, enquanto eu ficava em último plano.
Quantas vezes você virou as costas pra mim quando estava triste ou no fundo do poço? Quantas vezes você chegou a dizer que não sabia lidar com os meus chiliques e que tudo aquilo eram bobeiras. Pra você, eu só era boa companhia se estivesse bem humorada e feliz, caso o contrário, me tornava um ser insuportável.
Você sempre dizia que os meus remédios eram desnecessários e só serviam pra consumir parte da renda mensal, então parei de tomá-los.
Você não notou, mas eu piorei e muito, mas para não ficar ouvindo desaforos de você, eu fazia um constante teatro e quando você não estava presente eu me corroria por dentro. Você estava tão ligado nas suas coisas que nem percebia como eu estava morrendo por dentro.
Comecei a perder interesse por coisas que antes me interessavam e muito: não ia mais ao teatro e nem comprava mais livros, mas e daí, você também não percebeu nada disso.
Depois de uns 03 meses sem remédios comecei a desenvolver síndrome do pânico e fui me alimentando cada vez menos. Comecei a faltar no trabalho, porque tinha pânico de entrar dentro do metrô, mas para que você não descobrisse eu passei a ir de carona com um amigo do meu trabalho. É, eu tive que contar pra ele, e sem pensar duas vezes, ele resolveu me ajudar. Eu fingia ir até a estação de metrô, onde Jean já estava me esperando.
Me alimentar tornou-se muito penoso, era como se essa necessidade desaparece dia após dia, mas você só foi prestar atenção em relação a isso quando eu havia perdido 5 quilos. O que você me recomendou? Que procurasse uma daqueles estimulantes de apetite. Eu apenas sorri, concordando com a cabeça, pois isso era o que eu mais fazia ultimamente.
Eu estava atrofiando, mas continuava fazendo um belo teatro pra você, afinal de contas, não queria mais ouvir que eu era chiliquenta e tinha esses "lances bestas que me tornavam insuportável".
Fui desaparecendo aos poucos e você quando realmente notou, resolveu virar as costas. Você me deixou por "não mais me reconhecer". Lhe implorei pra ficar, mas foi em em vão.
Agora estou só, sem teatros, sem ninguém. Acendo um cigarro enquanto as lágrimas rolam pelo meu rosto. Olho pela janela e o vejo entrando dentro do táxi. O dia está nublado, está fechado, assim como estou por dentro.